No dia 17
de outubro esteve esta Coordenação Regional do Litoral Sudeste /
Fundação Nacional do Índio na Aldeia Paranapuã, situada em São
Vicente - SP, para a realização de uma oficina com o objetivo de
realizar uma reflexão sobre o lixo e sob o olhar da cultura Guarani
procurar gerar mecanismos de coleta, controle e redução do lixo, e
aproveitamento do material reciclável. O projeto conta com o apoio do projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena).
O primeiro momento da oficina
foi realizado na Opy, a casa de reza, foi feita uma apresentação do
tema, a classificação dos tipos de materiais descartados, as
consequências para a saúde e para o ambiente, as formas de redução,
reutilização e reciclagem, a compostagem, dentre outros assuntos
relacionados.
Durante a apresentação foram levantados alguns
problemas que a comunidade já enfrentou e outros que continua
enfrentando. Uma das atividades que tiveram grande evolução foi a
parceria com o controle de zoonoses, pois muitos animais eram
abandonados pelos brancos na porta da aldeia e não havia nenhuma
estrutura para o controle da população de animais e das doenças.
O
Controle de Zoonoses, junto com o apoio da Vera, da Prefeitura de São
Vicente e da comunidade indígena conseguiram realizar a castração
dos animais e a doação de cães e gatos que havia em número
excessivo, evitando inclusive algum desequilíbrio ambiental para o
Parque, que acompanhou a ação com interesse.
Outra questão que se desenvolveu bastante foi a maior constância na coleta do lixo realizada pelos indígenas, como bem lembrou o cacique Alcides. A comunidade tem se envolvido bastante para a maior limpeza em seu ambiente, mesmo com os desafios apresentados pelas aceleradas mudanças dos padrões de consumo e o surgimento de problemas com resíduos até pouco tempo ausentes da vivência indígena.
Na
comunidade existem lixeiras instaladas, mas há uma demanda para que
sejam disponibilizadas pela Sesai sacos de lixo e luvas, pois o
agente indígena de saneamento tem pago do próprio bolso parte desse
material para que o serviço não seja paralisado.
Falou-se sobre a
necessidade de diminuir a produção de lixo pequeno, que parece um
problema menor, mas quando junta, está sujeito a virar um problema maior.
A comunidade
indígena do Paranapuã recebe muitas doações, o Coordenador
Regional da Funai, Cristiano Hutter, levantou esta preocupação,
pois é preciso haver um filtro do que está chegando de doação,
pois há muitos objetos que não têm serventia e outros que a
comunidade não tem necessidade, por exemplo, chegam muitas roupas,
calçados, em mau estado, e também há muito desperdício, tudo isto
atualmente vira lixo.
A Escola Indígena está começando a trabalhar
a coleta seletiva com as crianças e o gestor do Parque Xixová
Japuí, Paulo Menna, tomou providências para a instalação de três
pontos de coleta seletiva, um para cada núcleo populacional
indígena. Os três núcleos são o núcleo do Alcides, o núcleo do
Dida e o núcleo do Marcelino.
O caminhão de coleta da Prefeitura
vai somente até a entrada do Parque, e inclusive o lixo do
escritório do Parque também tem que ser transportado até a porta,
por este motivo foi levantada a proposta de regularmente centralizar
o lixo do escritório do Parque e dos núcleos da aldeia para que
seja feito este transporte.
Em relação aos descartes de material
orgânico foi levantada em reunião a possibilidade do trabalho
dentro da comunidade indígena com a compostagem, transformando o
problema em solução, ou seja, os resíduos em adubo. Já uma
possibilidade em relação ao saneamento que foi sugerida foi a
instalação de banheiros secos. A comunidade indígena expressou
interesse em participar de oficinas específicas para aprender sobre
a compostagem e a utilização de banheiro seco.
Apesar das melhorias
adotadas pela comunidade indígena, existe um grande problema de
ordem externa, que é a poluição da praia, causada pelo grande
volume de lixo despejado diretamente no mar pelos moradores e
empresas da área urbana, e que atingem a praia pela ação das
marés. Segundo o Sr. Paulo Menna, por este motivo, o solo da praia
do Parque está, infelizmente, bastante contaminado.
No
desenvolvimento da reflexão sobre o lixo, muito foi falado sobre os
impactos na saúde e os problemas de contaminação, e dentre todos
os problemas levantados, aquele que mais se destacou foi a falta de
qualidade da água que abastece os núcleos da comunidade indígena.
Problema também enfrentado pelo escritório da Fundação Florestal
no Parque, que realizou inclusive junto ao Instituto Adolfo Lutz uma
análise que detectou contaminação por Escherichia coli.
Entende-se que esta contaminação ocorre por conta da precária
estrutura de captação, armazenamento e distribuição, e não da
origem, pois a água provém de nascentes, e portanto, em sua forma
original apresenta alta qualidade para consumo. No período da tarde
realizamos as visitas in loco das aldeias, da praia, das
trilhas e dos pontos de captação, armazenamento e distribuição da
água.
Durante a caminhada foi observada uma quantidade muito grande
de lixo na praia, vindo pelas marés. Em relação ao lixo produzido
pela comunidade, foi observado o lixo de pequeno volume, espalhado
pelos caminhos, que a comunidade pretende sanar, tanto com a educação
ambiental na escola indígena, quanto pelo exemplo dos pais, como bem
observou a psicóloga Vera, da Prefeitura.
Outro lixo ainda produzido
pela comunidade se acumula próximo aos locais de lavação de
roupas, pois nestes locais também há um grande número de pequenos
objetos.
Porém, o setor que realmente demanda maior urgência para
solução, demonstrado também pelas visitas in loco,
foi no sistema de abastecimento de água, pois detectamos diversos
problemas, que começa pela falta de caixas de captação e filtros
adequados, pois a água é captada em um nível muito baixo e com
muito barro, areia e matéria orgânica. Já na distribuição da
água os encanamentos estão velhos, danificados, remendados, há
muitos pontos de vazamento, mangueiras para uso doméstico em lugar
de mangueiras apropriadas para o abastecimento.
Nas caixas d'água é
visível a presença de barro, areia, folhas, a água turva, pois as
caixas d'água estão sem cobertura, tampas quebradas ou ausentes. Há
demanda também pela adequação do sistema de cisterna, que
atualmente é uma só, e a comunidade solicita que sejam instaladas
três cisternas novas, uma para atender cada núcleo populacional da
aldeia. Outra exigência da comunidade à Sesai é a entrega de kits
de saneamento para o agente de saneamento indígena poder realizar
seu trabalho.