24 de setembro 2014
O tema principal foi “Instrumentos de Gestão Territorial e Ambiental e
Protagonismo Indígena”, que teve como objetivo identificar e debater os
instrumentos e mecanismos de implementação da PNGATI, e como estes se
aproximam das discussões de políticas públicas para os povos indígenas
nas regiões Sul e Sudeste.
Grupo de cursistas e apoiadores do 4º Módulo. Foto: Andreza Andrade/Projeto GATI
Entre os dias 25 a 29 de agosto,
na Academia Nacional da Biodiversidade (Acadebio) em Iperó (SP),
aconteceu o 4º Módulo do Curso Básico de Formação em PNGATI – Bioma Mata
Atlântica Sul e Sudeste. Nessa etapa, o tema principal foi
“Instrumentos de Gestão Territorial e Ambiental e Protagonismo
Indígena”, que teve como objetivo identificar e debater os instrumentos e
mecanismos de implementação da PNGATI, e como estes se aproximam das
discussões de políticas públicas para os povos indígenas nas regiões Sul
e Sudeste. O módulo também debateu a interface entre os sistemas de
conhecimentos indígenas e os sistemas ocidentais, favorecendo o diálogo
de saberes de modo a produzir informações qualificadas que também
viabilizam a implementação da Política. Para mediar as discussões, foram
convidados como instrutores, representantes de órgãos de governo,
sociedade civil organizada e povos indígenas que estão a frente de
políticas ou experiências se inserem no escopo da PNGATI e que podem
contribuir com a gestão ambiental e territorial de terras indígenas.
Essas iniciativas relatadas foram nas áreas de: plano de gestão, manejo e
recuperação ambiental, monitoramento e proteção territorial, atuação em
conselhos, educação, segurança alimentar, geração de renda entre
outros.
O curso é uma parceria entre a Fundação Nacional do
Índio (Funai), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Articulação dos Povos
Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Projeto GATI (Gestão Ambiental e
Territorial Indígena), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). Conta ainda com o
apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GIZ) e Academia
Nacional da Biodiversidade (Acadebio). O 5º Módulo será realizado de 17 a
21 de novembro.
4º Módulo Curso PNGATI Sul e Sudeste
Formação e Gestão
Cláudia Bandeira, da Coordenação Geral
de Promoção a Cidadania (CGPC) da Funai sede, fez um apanhado das
iniciativas de formação escolar indígena em curso no Sul e Sudeste e de
que forma os indígenas poderiam estar realizando parcerias com
universidades, centros de pesquisa e institutos federais para
desenvolver os seus projetos de educação.
O coordenador da Arpinsul, Marciano
Rodrigues, falou da importância da realização dos intercâmbios, seja
entre povos indígenas ou com não indígenas, a fim de se estimular a
compreensão da diversidade e as diferenças culturais e de conhecimentos.
Segundo Rodrigues, o intercâmbio é um importante instrumento que pode
ser utilizado em iniciativas de gestão.
Já o indígena Cristiano
Lima, do povo Guarani, relatou a experiência da sua aldeia, a Renascer,
localizada em Ubatuba (SP), que desenvolve junto com a escola, ações de
replantio de espécies nativas como a jussara, pupunha. Essa ação
contempla ainda o plantio de horta comunitária que é usada, sobretudo
para promover uma boa alimentação para os estudantes.
Proteção Territorial
Os indígenas Adailton Bezerra Xakriabá e
Milton Katam Kaingang foram convidados para relatar as experiências de
proteção que estão acontecendo nas suas terras. O primeiro, Adailton,
falou do Consep - Conselho de Segurança Pública, dos Xakriabá (MG) que
atua na segurança interna das aldeias e para isso, faz parcerias com
órgãos como Ministério Público, a Polícia Civil e Militar, os Conselhos
Tutelares e escolas dentre outros. O Conselho tem promovido ações de
prevenção contra a violência, uso de ilícitos, crimes e etc, e tem
alcançado resultados positivos com redução de ocorrências.
Milton Katam Kaingang relatou a atuação
dos monitores territoriais da TI Mangueirinha (PR). Trata-se de um grupo
formado por meio da CGMT (Coordenação de Gestão Ambiental e
Territorial) da Funai, que faz o monitoramento da TI, a fim de coibir
invasões, caça e retirada ilegal de recursos naturais. Milton falou
também da atuação da Aproinma (Associação dos Produtores Indígenas de
Mangueirinha) na gestão das ações de agricultura de lavoura na TI e na
administração do ICMS Ecológico.
Já o jornalista Cristiano Navarro,
trouxe a temática do audiovisual e outras ferramentas da comunicação
social que podem ser usadas em movimentos de gestão e autonomia
indígena. Navarro falou do importante papel dos vídeos produzidos pela
Comissão Guarani Yvyrupa CGY junto aos protestos dos Guarani da grande São Paulo
(saiba mais). E ainda do grupo de jovens indígena Guarani Kaiowá, os Brô MC´s
(saiba mais), e seus raps com mensagens de protestos, que retratam a realidade desse povo no Mato Grosso do Sul.
Gestão Ambiental
Kátia Torres, do ICMBio, abordou a
questão do “monitoramento participativo da biodiversidade” como
instrumento de gestão. A mesma explicou os conceitos que abrangem a
prática e suas etapas. Trouxe exemplos concretos de monitoramento
participativo, como o da
Cooperafloresta
na Barra do Turvo (SP). Por meio de trabalhos de grupo, Torres provocou
os cursistas a apontarem questões que afetam as comunidades indígenas
que seriam passíveis de monitoramento. Os cursistas apontaram questões
não só relacionadas à biodiversidade (fauna e flora) como as que se
referem a questões sociais, como geração de renda, empreendimentos, má
qualidade na atenção à saúde, entre outros.
Outra apresentação relacionada ao tema
foi feita por Marciano Rodrigues (Arpinsul) e Thiago Valente (biólogo e
mestre em agroecologia pela UFSCar). Falaram da experiência de
levantamento da agrobiodiversidade tradicional das comunidades
Guarani-Nhandewa, que registrou espécies plantadas pelos indígenas. A
experiência está documentada num artigo escrito por Rodrigues, Valente e
Luiz Norder e publicado na revista “Espaço Ameríndio”, para ter acesso
clique
AQUI.
Etnodesenvolvimento e Gestão Ambiental
Pedro Cordeiro, colaborador do Projeto
GATI, compartilhou a experiência de coleta e comercialização da erva
mate da TI Marrecas (PR), que envolve a conservação da floresta com
araucária e valoriza as práticas indígenas por meio do manejo
sustentável de erva nativa, orgânica e certificada.
Sobre acesso aos programas da Conab
(Companhia Nacional de Abastecimento) a gestora Ianella Loureiro, da
Gerencia de Produtos, da Sociodiversidade (Conab), falou do PPA –
Programa de Aquisição de Alimentos e da PGPM-Bio – Política de Garantia
de Preços Mínimos para Produtos da Sociodiversidade, e como os indígenas
podem acessá-los.
A Coordenação Geral de Promoção
Desenvolvimento Sustentável (CGPDS), representada pela coordenadora
Patrícia Neves, fez um balanço da “Ação de Distribuição de Alimentos”
(ADA), nas regiões Sul e Sudeste, fruto da cooperação técnica entre o
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), Funai,
Conab, Sesai e outros parceiros.
Já o consultor do Projeto GATI, Dafran
Macário, falou do processo de elaboração de Planos de Gestão Ambiental e
Territorial (PGTA) e como exemplo trouxe a experiência que está sendo
realizada pelo GATI na TI Guarani do Bracuí (RJ).
Outra experiência apresentada foi o caso
do PBA (Plano Básico Ambiental) da Usina Hidrelétrica de Mauá, no rio
Tibagi, cujos impactos atingiram sete terras indígenas no Paraná. Para
falar do assunto foram convidados Paulo Goes, Ivan Bribis e Reginaldo
Alves (os dois últimos cursistas Kaingang) que acompanharam todo o
processo do PBA. Eles mostraram como as comunidades indígenas se
organizaram para enfrentar o problema e a partir de então, monitorar as
ações de compensação.
Marcos Sabarú, do povo Tingui Botó (AL) e
membro da APOINME, apresentou a iniciativa em curso implementada pelo
seu povo que envolve ações de recuperação ambiental e produção agrícola
destinada à segurança alimentar e ao mercado. De acordo com Sabarú, a
gestão e o manejo do território contribuem para a organização social e
melhoria da qualidade de vida dos Tingui Botó.
Gestão e Governança Ambiental
Nessa temática, Henyo Barreto,
coordenador pedagógico do curso, falou sobre a relação da PNGATI com os
demais conselhos e comitês gestores de políticas públicas, a relação dos
espaços já conhecidos e ocupados pelos povos indígenas com os seus
protocolos próprios de “representatividade”, tomada de decisão e
participação. Para isso, cada cursista fez um balanço da sua
participação nessas instâncias e qual o seu papel como
representatividade indígena.
Ainda sobre o tema, houve uma roda de conversa com coordenadores
regionais da Funai João Maurício da CR Litoral Sul, Roberto Perin da CR
Passo Fundo e Cristiano Hutter da CR Litoral Norte, que discutiu junto
com os cursistas, formas de implementar a PNGATI garantindo a
participação e o compromisso das CRs nessas ações.
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